O que está acontecendo com a agricultura na Europa e particularmente na França, é que agora “caiu a ficha”. Com o inverno no hemisfério norte, com raras exceções, não se consegue plantar e colher mais de uma lavoura por ano. Nos trópicos é diferente. Nosso clima, com a incidência de sol praticamente todo o ano, permite que tenhamos mais de uma safra, na mesma área a cada ano. Com o uso mais intensivo do solo os nossos custos fixos são diluídos diferente quando se cultiva nos solos de clima temperado. Essa é a uma das principais diferenças entre o nosso custo de produção e as dos Europeus. Nosso inverno com temperaturas amenas, é o período de maior luminosidade. Com o plantio direto, hoje usado em praticamente toda a área de cerrado, parte das chuvas de verão é retida mais tempo no solo e permite, com grande eficiência um segundo cultivo. Em muitas áreas, principalmente nas chapadas, onde há queda da temperatura noturna, já se d planta uma terceira lavoura de sequeiro. Esta terceira lavoura tem as seguintes finalidades:
1-utilizando-se plantas mais resistente à seca, com a finalidade aumentar a camada de palha para elevar a eficiência do plantio direto na próxima cultura de verão;
2-produção de gramíneas para forrageira do gado, aumento da camada de palha, descompactação do solo, aprofundamento do sistema radicular com aumento da área de exploração das raízes;
3- rotação de cultura;
4-redução da pressão de pragas como os Nematoides entre outras;
5-criação do vazio cultural para redução de doenças, principalmente quando se pretende plantar soja como a próxima lavoura de verão.
Deve-se observar que quanto mais tempo o solo manter-se com cobertura vegetal maior é o sequestro de Carbono e maior é sua fixação no solo. Os europeus tem um conceito totalmente distorcido da nossa agricultura. É por essa razão que o Dr. Alysson Polinelli pediu-me que meu livro- “A produção Sustentada no Cerrado- O verdadeiro Milagre Brasileiro”, fosse traduzido para o Inglês. (O anuncio do livro consta da relação da ALAGRO)
Quando cursava Agronomia no final dos anos 60, o exemplo que nos davam nas aulas de solo de terras férteis era sempre as de clima temperado com destaque aos solos da Ucrânia. Eram considerados os mais férteis do mundo. Na época só nos apresentavam vantagens quando se comparava os solos de clima temperados aos nossos tropicais. O inverno ajudava a preservar a fertilidade. O congelamento do solo além de reduzir a compactação reduzia a incidência de pragas e doenças ao contrário dos solos tropicais. Hoje com a ocupação do cerrado, com uma tecnologia gerada aqui, no nosso país, os paradigmas mudaram. Hoje conforme aponta o Dr. Alysson no prefácio do meu livro: “é a Agricultura Tropical hoje, a mais produtiva do mundo”. Como exemplo temos a produção de trigo no cerrado. Durante dois anos consecutivo, o pesquisador da Embrapa Cerrado Júlio Albrecht em parceria com a Embrapa -Trigo, numa área de 59,8ha na fazenda do Sr. Paulo Bonato em Cristalina-Go, bateu, por dois anos consecutivo, o recorde mundial de produtividade de trigo irrigado com a cultivar BRS 264 criada pela Embrapa. Também o trigo de sequeiro vem alcançando índices elevadíssimos de produtividade. Segundo os pesquisadores, em curtíssimo prazo alcançaremos a auto suficiência do cereal. Com relação a soja, com seus 44% de proteína em média e 20% de óleo comestível é a maior fonte de proteína para alimentação de animais e, indiretamente para o homem. Nossa produção ano passado foi em torno de 150 milhões/t de soja, enquanto toda a Europa produziu 10,5 milhões/t.
O que está acontecendo com os produtores europeus é que eles estão “apavorados” com o que está acontecendo nos trópicos. Se não for com muito subsídio nunca irão concorrer com a eficiência da nossa produção. Podemos ter certeza que cada vez mais irão aumentar a pressão sobre às nossas comercializações como está acontecendo com o acordo do Mercosul. Também podemos ter certeza que a pressão com conceitos distorcidos sobre os nossos meios de produção e também sobre o meio ambiente aumentarão cada dia mais.
Autor: Eng. Agrônomo- Domingos Ribeiro de Carvalho