“Leite de vaca é saudável e barato” – entrevista do presidente da ABRALEITE para o Correio Braziliense

Produtores aplaudem estudo da OMS que libera o consumo do produto pasteurizado para bebês a partir dos 6 meses de idade. Em entrevista ao CB.Agro, representante do setor leiteiro diz que o maior problema é a concorrência dos lácteos importados

A Organização Mundial da Saúde publicou, em dezembro do ano passado, uma diretriz que libera, além das fórmulas infantis, o uso do leite de vaca não modificado para bebês de 6 a 11 meses que não estão sendo amamentados por leite materno. A recomendação da OMS consta no Guia para alimentação complementar de bebês e crianças de 6 a 23 meses de idade. O presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (ABRALEITE), Geraldo Borges, falou sobre o assunto, ontem, no CB.Agro — parceria entre o Correio e a TV Brasília. Aos jornalistas Roberto Fonseca e Mila Ferreira, o presidente da ABRALEITE avaliou como positiva a liberação pela OMS do leite de vaca, mas reforça que o leite materno é o alimento mais indicado para bebês. Acompanhe os principais trechos da entrevista.

Como o senhor avalia a posição da OMS e qual o impacto para o setor? É um assunto extremamente importante, trata-se de saúde humana, inclusive, dos bebês, que precisam de cuidados. Isso só mostra para nós o quanto o leite é um alimento saudável e importante para o ser humano em praticamente todas as fases da vida. Até os 6 meses, o leite materno é insubstituível, o leite da própria mãe do bebê deve ser sempre ministrado à criança. Mas, quando você vê que a própria OMS publica isso, melhora muito, não só no sentido de esclarecer para a população o quanto esse alimento é importante e saudável, mas, também, pela acessibilidade, das famílias menos favorecidas terem acesso a um produto em que o custo é muito menor. O leite de vaca pode ser adquirido de uma forma muito mais fácil por qualquer classe da população brasileira, é muito mais acessível que um leite especial ou um leite formulado — que a gente chama de fórmula infantil —, que restringem o consumo pelo seu custo.

Nem todas as mães conseguem amamentar, por uma série de fatores, nem têm condição de adquirir a fórmula infantil… Nem todas conseguem amamentar por 12 meses, o ideal é que consigam, mas não é possível para todas elas. (A decisão) traz uma tranquilidade para que pais e mães possam administrar o leite de vaca sem nenhuma preocupação, já que é um estudo e uma mudança colocados pela Organização Mundial de Saúde.

Como tem sido a conversa com os produtores em relação a esse assunto? Vem sendo feito uma campanha de esclarecimento? A gente divulgou não só em redes sociais como nos sites, mas, também, em entrevistas como essa aqui. A divulgação foi no final do ano, um momento difícil, todo mundo está se preparando para as festas de fim de ano, encerramento, recessos. A gente pretende, agora em janeiro, divulgar, difundir mais isso.

Existem vários paradigmas com relação aos benefícios nutricionais, intolerância à lactose, tem muita gente que acaba cortando o leite da alimentação acreditando que faz mal sem ter essa certeza. Agora, a Sociedade Brasileira de Nutrição e a Sociedade Brasileira de Nutrologia soltaram um estudo sobre os benefícios nutricionais do leite. Qual a importância de a população ter informações científicas? É muito importante, porque são duas instituições sérias, da saúde humana, que não estão vinculadas ao agronegócio. Não representam os produtores, e sim, a área de saúde humana. São duas instituições sólidas que fizeram um estudo e publicaram um consenso mostrando o quanto o leite e seus derivados lácteos são importantes para a saúde humana em todas as suas fases de vida, quebrando tabus e esclarecendo dúvidas e colocações que são fake news. A gente quer esclarecer por meio do embasamento científico, de estudos sérios como esse. Por isso, a gente está trazendo essa notícia, e ficamos muito tranquilos de falar dessa forma. É lógico que pessoas com intolerância à lactose ou alergia à proteína do leite precisam consumir produtos livres ou do açúcar ou da proteína do leite, e isso está disponível no mercado. O percentual de seres humanos que tem alergia ou intolerância ao leite é muito pequeno. Então, é fácil para a gente publicar e divulgar para toda sociedade que é tranquilo consumir os lácteos.

Quais são os tipos de leite de vaca disponíveis e quais são os benefícios? O setor é muito grande. Nós temos vários lácteos importantes, como queijos, manteiga, e a gente recomenda todos esses produtos, não há restrição a nenhum deles, e nem queremos aqui compará-los. O único alerta que nós fazemos é que as pessoas também procurem saber se têm alergia ou intolerância, que faça exames, que peçam ao seu médico para provar se ele tem uma alergia à proteína do leite ou intolerância ao açúcar do leite.

Qual a diferença do tipo A para o tipo B, como é feito isso e como que impacta para o consumidor? Não impacta em relação à saúde. O tipo leite A é envasado diretamente na agroindústria, e tem a validade parecida com a do leite pasteurizado, que não é envasado na propriedade. O pasteurizado tem em torno de sete dias de validade. Existe o UHT, que é o de caixa, que tem um prazo de validade maior pelas condições de armazenagem. Todos esses leites são alimentos importantes, são alimentos saudáveis e devem ser consumidos. O leite tipo A tem um custo maior do que o leite pasteurizado e de um leite UHT, que é o de caixinha.

É essa a diferença que justifica o que a gente vê nas gôndolas? Sim, de valores de custo de produção que oneram mais ou menos. Consumir leite in natura é seguro? A gente não recomenda o consumo do leite in natura que não tenha passado por algum processo de pasteurização e UHT, só o leite que realmente foi inspecionado. Nós temos o serviço de inspeção no Brasil municipal, estadual ou federal. Cada estabelecimento, seja cooperativa ou laticínio, necessariamente precisa passar por um desses sistemas de inspeção. Quais são as perspectivas que o senhor vê para o setor em 2024? O Brasil ainda importa 12% do leite consumido no país? Ainda que estejamos com recordes de importação, inclusive, aumentou dezembro em relação a novembro, e janeiro ainda persiste com alto índice de importação de leite do Mercosul, aproveitando a questão de que os países membros comercializam seus produtos sem nenhum tipo de taxação. Argentina e Uruguai continuam mandando volumes expressivos para o Brasil, o que tem prejudicado muito a nossa cadeia produtiva do leite. Isso prejudica não só aqueles mais de 1 milhão 176 mil produtores — segundo o censo do IBGE — pulverizados em 800 municípios, mas, também, as pequenas cooperativas de laticínios, todas as indústrias de beneficiamento de leite. Nós não somos contra o comércio internacional, mas contra fluxos predatórios que ainda estão acontecendo. Temos esperança de que alguma coisa possa modificar em relação a isso, como o decreto que passa a vigorar em fevereiro, do governo federal, que reduz os benefícios fiscais para aquelas empresas que importam o leite, o derivado lácteo do Mercosul, de uma forma que possa diminuir esse fluxo contínuo e predatório que está acontecendo aqui no Brasi.

Confira a entrevista no canal do youtube da ABRALEITE : https://x.gd/fKMRW

Por: Isabel Dourado – Correio Braziliense  – 13 de janeiro de 2024

Crédito da Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press